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Mostrando postagens de março, 2012

Comédia de erros.

A enfermeira segura minha mão. Vejo nos olhos dela que ela não sabe o que dizer. Ela fica num misto de assustado e pena que me tira do sério. Penso quanto tempo ela tem visto pessoas como eu, mas ainda assim ela sorri. Ela tem belos olhos, e uma incrível paciência com as minhas histórias: -E como você a conheceu? Você tem que contar de novo. -Eu estava no parque. Eu já te contei isso. -Sim, esperando com uma rosa da mão. -Não, minha filha. A vida não é como nos livros. Eu estava esperando com uma gastrite danada e uma ressaca. -Faz mais sentido. Será que eu confundo as histórias? Eu me lembro de você no banco do parque, mas não lembro de tudo. Eu me lembro das lágrimas da primeira vez que você me contou sobre sua mãe, mas não me lembro de nada a não ser isso. Seus olhos. Isso. Seus olhos estavam caídos e desesperados. Você inspirava um sentimento estranho. Era como se minha gastrite não tivesse fim, por isso bebia tanto. Sonhei que o álcool substitui

A casa tomada.

Nos primeiros raios da manhã, eu e Matilde nos abraçávamos delicadamente. Sentíamos o cheiro do começo do dia invadir nossos pulmões depois de uma simples e bela noite de amor. Maltide me perguntou o que era aquele barulho: o silêncio era quebrado pelo ressoar de vozes. O casarão em que vivíamos tinha seis quartos, três banheiros, duas salas e um banheiro. Não saímos do primeiro quarto e da cozinha, mas conhecíamos toda a casa, até o momento em que ouvimos barulho do primeiro andar da casa. O primeiro andar havia sido tomado. Trancamos a porta e ficamos presos no segundo andar da casa. Matilde olhou para mim com olhos suplicantes como que dizendo: perdemos parte de nós do lado de lá. Meus CDs, seus filmes, meus pôsteres e uma vida inteira em comum das nossas famílias. Matilde corria gritando pelo segundo andar, até que lhe acalmei: é normal, o mundo é assim, tira partes da gente quando menos esperamos. Ela olhou para mim espantada descobrindo uma nov